sábado, 30 de janeiro de 2010

Partes de mim...

Há em mim um soneto inacabado. Não houve versos para o último terceto. Ao poeta, faltaram-lhe as palavras. Sobraram-lhe sentimentos.

Ao pintor não faltou a inspiração. Mas - que ironia! – não houve tinta suficiente para a última pincelada. A tela abstrata ficou sem o retoque final. E eu estava ali.

Da argila que não ganhou forma nas mãos sensíveis do escultor, parte está em mim. Como as notas que não deram harmonia à peça musical do compositor. E o assunto que, lá pelo meio do texto, escapou ao cronista.

A última cena do filme, o último capítulo do romance, o último ato do teatro, o último chiste da comédia, o último traço do desenhista, a última dose. Confesso, também carrego todos comigo.

Partes de uma incompleta vida inteira.

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